quinta-feira, 20 de outubro de 2011

S E R M Ã O

 
“Há chorar com lágrimas, chorar sem lágrimas e chorar com riso: chorar com lágrimas é
sinal de dor moderada, chorar sem lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de
dor suma e excessiva... a dor moderada solta as lágrimas, a grande as enxuga, as congela, e
as seca... A mesma causa, quando é moderada, e quando é excessiva, produz efeitos
contrários: a luz moderada faz ver, a excessiva faz cegar; a dor, que não é excessiva, rompe
em vozes, a excessiva, emudece. De sorte a tristeza, se é moderada, faz chorar, se é
excessiva, pode fazer rir; no seu contrário temos o exemplo: a alegria excessiva faz chorar e
não só destila as lágrimas dos corações dedicados e brandos, mas ainda dos fortes e duros.
(...) Pois se a excessiva alegria é causa do pranto, a excessiva tristeza por que não será causa
do riso e a ironia tem contrária significação do que soa; o riso de Demócrito, era ironia do
pranto; ria, mas ironicamente, porque o seu riso era nascido de tristeza, e também a
significava; eram lágrimas transformadas em risos metamorfoseados da dor; era riso, mas com
lágrimas;(...).”


(O Pranto e o Riso, ou as lágrimas de Heráclito defendidas em Roma pelo padre Antônio
(Roma, palácio da rainha Cristina da Suécia, 1674))
Vieira contra o riso de Demócrito

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