QUEM FOI MARIANA ALCOFORADO
Mariana Alcoforado (Beja, 2 de Abril de 1640 — 28 de Julho de 1723) é a
personagem e presumível autora das cinco “Lettres Portugaises” (As Cartas
Portuguesas — titulo com que foram publicadas 1669, em França) dirigidas a
Noel Bouton de Chamilly, conde de Saint-Léger, oficial francês que lutou em
solo português sob as ordens de Frederico de Schomberg, durante a Guerra
da Restauração. Tais cartas acabariam por se tornar num clássico da literatura
universal.
Mariana Alcoforado nasceu em Beja em 1640. Com onze anos, é obrigada a
entrar para um convento, a fim de ficar a salvo do brutal conflito provocado
pela guerra com Espanha e para honrar o testamento materno que a nomeava
freira do Convento da Conceição.
Sem ter nenhuma inclinação religiosa, ela foi assim destinada a uma vida
enclausurada, partilhando da sorte de muitas raparigas da sua época, que eram
encerradas em conventos por decisão paternal.
Impotente face à irrevogável decisão do pai, Mariana submete-se à clausura,
mas anseia pelo dia em que poderá regressar ao seio da família e à liberdade da
vida real.Um dia (não se sabe a data precisa) chega à cidade de Beja um regimento
francês, comandado por Frederico de Schomberg, que ali se encontrava para
apoiar o país contra Espanha na Guerra da Restauração (1640-1668).
Quis o destino que o seu olhar se cruzasse com o do jovem oficial francês
Noel Bouton. Mariana estaria na janela de Mértola do convento, e dessa troca
de olhares nasceria um amor imediato e profundo.
Tendo então a idade de vinte anos, o instinto físico falou mais alto e deixou-se
dominar por uma incontrolada paixão que a fez introduzir Bouton
secretamente na sua cela durante várias noites seguidas.
Descobertos, a notícia dessa relação difundiu-se rapidamente causando
escândalo. Sóror Mariana pertencia à poderosa família dos Alcoforados, e
temeroso das consequências, Bouton saiu de Portugal, com o pretexto da
enfermidade de um irmão e prometeu mandar buscá-la.
Duma janela do segundo piso do Convento, esperaria Mariana por notícias do
seu amado, vivendo a sua paixão impossível e desesperada, na sua condição de
mulher destinada a Deus.
Na sua espera, em vão, escreveu as referidas cartas, que contam uma história
sempre igual: esperança no início, seguida de incerteza e, por fim, a convicção
do abandono.A sua correspondência destinada a Bouton, um conjunto de cinco cartas
escritas em francês, foram publicadas em Paris por Claude Barbin, e foram
avaliadas entre as mais comovedoras do género. Esses relatos emocionados
fizeram vibrar a nobreza de França, habituada ao convencionalismo. Além
disso, levaram, para a frívola sociedade, o gosto acre do pecado e da dor, pois
traziam a lume as intimidades de uma freira.
“As Cartas” anteciparam o movimento literário romântico e serviram de
inspiração a La Bruyère, Saint-Simon, Saint-Beuve e muitos outros autores
românticos.
Rousseau, por achar as cartas demasiado belas para serem escritas por uma
mulher, negava-lhes a autenticidade, atribuindo a autoria a escritores franceses
ou portugueses como Alexandre Herculano ou Camilo Castelo Branco.
De facto, desconhece-se como e porque razão tais cartas foram parar às mãos
do editor Claude Barbin e como tal presume-se que tais cartas possam na
verdade tratar-se de uma obra de ficção difundida como sendo verdadeiras
como um modo de publicidade. Mas no seguimento especulativo, há também
a considerar porque é que “As Cartas”, escritas em francês, possuem
acentuados vestígios de sintaxe portuguesa. Especula-se por isso que estas
provêm de uma tradução literal de cartas escritas em português — e perdidas
—, ou então compostas por alguém que, conhecendo o idioma francês, não o
dominava a ponto de redigi-lo com absoluta perfeição. Na biblioteca dos Alcoforados acharam-se também inúmeros livros em francês, indício provável
de que era uma família que se servia frequentemente da língua francesa, pelo
menos para leitura.
Às “As Cartas” seguiram-se “As Resposta” assinadas por Bouton, e outras
demais obras com as mesmas personagens, mas todas essas publicações são
efetivamente apócrifas (*) e não têm a mesma qualidade ou tiveram a mesma
receção critica do público
[(*)Cuja autor não é aquele a que se atribui]
Atualmente especula-se que as cartas sejam provavelmente uma obra de
Gabriel de Guilleragues, um diplomata e jornalista francês, secretário do
príncipe de Conti, mas a sua verdadeira autoria, provavelmente nunca o
saberemos.
Sejam “As Cartas” verídicas ou não, Mariana Alcoforado, existiu realmente, e
o escândalo que houve em torno da sua pessoa, também foi verdadeiro. A sua
vida, tornada famosa pelas cartas, foi motivo de inspiração a diversas obras
teatrais.
Mariana, pela sua vez, com o tempo reabilitou-se da sua tristeza. Pelas boas
obras que prestou enquanto freira adquiriu o título de “Soror”(*) e chegou à
posição de abadessa do Convento. Morreu já idosa, aos oitenta e três anos de
idade em 1723 no Convento da Conceição em Beja.
[(*) Reverencia dada às freiras em posição hierarquicamente elevada]
continua com a PRIMEIRA CARTA...
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