quinta-feira, 4 de abril de 2013

Pão e poesia

Sim, eu tenho fome, uma fome sem sossego
Que desconhece limite
Que não cessa
Uma fome sem tamanho
Sem governo
Eu tenho a fome dos famintos
Eu mastigo com calma livros inteiros, página por página
Eu conheço o gosto de determinadas palavras
O sabor de uma vírgula
Também devoro, mas não tão pacientemente, músicas inteiras, de uma vez
Eu mordo com sofreguidão e gula um bom solo de guitarra
Uma batida boa de bateria
Mas também sei saborear com parcimônia uma nota suave de Beethoven
Ah eu como filmes, versos, fotografias, cores
Eu como o teu olhar de jabuticaba madura
Que de tão doce cola até nos meus dentes
Eu como a solidão das coisas esquecidas
Eu mastigo o tempo
Os dias e as noites
Sim, eu tenho fome
Uma fome sem medida
Fome da vida.

Ana Luiza Fireman


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