terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pão e Poesia

Quando eu tinha o tamanho de uma menina, achava graça da cara da professora quando me corrigia o traço de cor que atravessava a linha que demarcava o desenho: "assim não! Você não pode atravessar a linha do desenho!" 
Eu achava graça dela porque ela não entendia que a graça mesmo era errar, poder errar, passar do traço, atravessar a linha, romper a previsibilidade esperada
A pintura impecável nunca foi pra mim!
Eu defendo desde sempre o direito sagrado de dar mancadas
De dizer besteira, de fazer besteira
Quem vive tentando fazer o certo se acorrenta em manuais inúteis de instrução, vira coisa programada, repetição do mesmo
Eu quero fazer do meu jeito, ora bolas!
Me deixe cá com meu desenho torto
E quem disse que o encanto só reside na simetria?
E quem disse que a gente tem sempre que estar certo? Que fazer o certo, e que o certo é certo?

Ana Luiza Fireman

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores